sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Amargo e Afável - Parte 4/4


Então eu me lembrei de uma cena antes dessa, apenas um dia antes do inicio de tudo isso.
Havia uma caixa com desenhos que achei numa pasta enquanto arrumava as coisas para minha mudança. Ia jogar tudo fora, mas abri. Havia vários desenhos feitos quando eu tinha de 10 a 13 anos.
Não sei explicar a sensação que experimentei ao olhar um dos desenhos especificamente - o rosto de um lobo; um desenho simples. A princípio, senti-o muito simples, mas ao mesmo tempo perfeito, completo.
No mesmo instante senti o que era; Era como se faltasse algo, ao tempo que havia a ciência em mim de que qualquer traço a mais o estragaria, qualquer tentativa de fazê-lo “perfeito”, o imperfeiçoaria. - Tive a ciência no mesmo momento, e eu sabia, ele já fora perfeito para mim.
Então imaginei e pude ver a pequena mão de desenhou aqueles traços suaves, o sorriso simples e leve assim como o olhar que tinha o lobo. Tive a nítida e transparente visão de mim por aqueles traços, daquele mesmo jeito: Puro, simples, sem enfeites - Aquilo me fez imensamente bem.
Lembrei de um sorriso meu que há muito não dou, de uma inocência que perdeu espaço no mundo, de um sentimento de carinho por mim mesmo que já não existia. Senti carinho por mim, ternura e empatia por mim mesmo. Orgulho daquela criança.
Olhando aquele desenho eu pude sentir que eu ainda era aquela criança, que ela ainda existe em mim e isso me deu um gosto bom naquele momento, me fez sentir orgulhoso de ser quem eu era. Então eu decidi guardar aquele desenho para colá-lo na parede ao lado da minha cama para vê-lo toda manhã, porque eu precisava não esquece aquele menino, mas esquecer seria inevitável, então eu sabia, eu precisava lembrar todos os dias - Eu precisava lembrar todos os dia de quem eu sou.
                                                                                                            
Lembrando dessa cena, e a que veio em seguida, percebi que o que eu precisava urgentemente saber, o que era tão subjetivo a ponto minha visão mais profunda e detalhista daqueles dias não alcançarem nunca foi “Por que sobrevivemos?” ou “Qual o valor da vida?” Ou “o porquê estava vivendo”. O que eu precisava era lembra. Precisamos ser conscientes que estamos vivos. Mesmo quando não parece, estamos vivos, ainda respiramos e sobrevivemos a tudo o que tentou nos derrubar minutos atrás.

Nós sobrevivemos a todo o sofrimento que passamos, sobrevivemos às dificuldades que a vida nos impõe, sobrevivemos às frustrações, às limitações. Sobrevivemos às magoas, sobrevivemos às derrotas, sobrevivemos aos erros... Às vezes, até deixamos de caminhar, paramos, mas sobrevivemos, resistimos. E não importa o porquê!
O que me afligia e me abatia tão profundamente naqueles dias, e eu não entendia, o que era tão urgente saber é que: Aquela garota com apenas dezessete anos, com todos os seus sonhos e suas esperanças, morria e eu não conseguia lembra que vivia.  Apenas isso. Não porquê ou para quê. Precisamos antes lembrar desse simples fato: Nós sobrevivemos. Estamos vivos. Ser conscientes sobre isso.


2 comentários:

Alef disse...

É meu caro... ja deixei de crer em conicidências há um certo tempo. Ainda assim, consigo me surpreender... mas passaram a acontecer com muita frequência, logo, ou me acostumo ou tenho um troço... rss!
Adorei o texto! É de puro e nos leva a reflexão.
Mas isso eu contiuarei no próximo post. Você tocou a bola, vou tentar fazer um gol... hehe!

Abração.

lógos Alethéia disse...

hahahha, Cara, isso foi realmente extraordinário,rs, vamos que vamos. Quando eu vi, nem sei, pensei um singelo "Caramba, que coincidência!"
Mas, aquilo, né? Tinha que postar a quarta parte. E essa foi a última. Vamos ver o que mais vem por ai, daí e daqui! hehehe

Abraço!