terça-feira, 10 de julho de 2012

Criança


Já se deparou com uma criança que tem pavor de coisa tão boba?
Você diz: - Meu amor, é só uma foto. Vamos tirar uma foto? – Mas ela não quer, têm pavor por alguma experiência passada. Chora, se joga no chão, mas não por pirraça, e você sente que não é manha, então dá uma pena forçar a criança.
De outra vez, essa mesma menina, quando foram médicas à escola, não queria se pesar, muito menos deitar no colchão para que pudessem medir seu tamanho. - Foi uma luta, e ai sim, vira algo ruim, pois tiveram que segura-la. E ela correu para atrás de mim, assustada, e eu não tinha o que fazer, dizia: “Meu amor, a tia só vai medir você, não vai doer”, mas ela não escutava. E o pior, fazia uma cara tão assustadinha, como quem dissesse “Por favor, me ajuda. Eu não quero”. E chorava, esperneava, e estendia o bracinho para mim enquanto a levavam, e eu não preciso dizer que isso quebra nosso coração.

Outro dia me vi assim, a consciência, a vontade e a... Não sei o nome, talvez “coração”. Não sei, é lá onde fica o amor.
Eu dizia, em consciente, “Por que não?”, mas ele sempre acha um impedimento, diz que não quer, e até o vejo espernear se um pouco forçado a tentar – como uma criança que não quer comer e, mesmo mastigando a comida, está pronta para cuspir, engole e para cada nova colher, fecha a boca e vira o rostinho para os lados.
Eu estava olhando isso, não sei quando, essa criança dizendo “não quero” e fazendo corpo mole, mas não de pirraça, não tinha vontade, não queria, não tinha saco. E não era manha...
– Sabe quando você acaba de sair do supermercado lotado e te falam que você vai ter que entrar de novo?

Uns dias antes, um amigo reclamando da namorada, falou um monte de coisas, e depois disso, fez a pergunta chave:
- Você, se você entra em um relacionamento agora, você vai fazer uma pessoa pagar pelos erros que outra pessoa cometeu com você?
E eu disse:
- Complicado. Consciente, nos escolhemos, temos consciência das coisas. Inconscientemente, não temos escolha, a criança é quem manda, a inocência e a ingenuidade. Somos o que somos e o que vivemos e, às vezes, cansamos. Não que essa outra pessoa vá “pagar” pelos erros de outra, mas é quase isso. As coisas nos mudam, o frio nos torna frio, o quente nos torna quente, se é que me entende. Somos o que somos e as coisas que vivemos...

Então voltamos à criança, que pouco vejo, quase sempre inconsciente nos meus gestos; É quando eu sei que todos pagam por isso, quando me deparo com coisa tão boba: Essa rejeição e esse medo e essa falta de vontade, de senso e consciência dos atos para os corações alheios a tudo isso – Os monstros imaginários que a criança teme, que estão sempre rondando nossos berços.

- Sim, e na verdade, todos vão pagar por isso – respondi por fim – e é quase imperceptível, porque a criança é inocente e é ela quem sempre fica com o trauma.


***
Fazendo uma visualização rápida:
O corpo, a carne, o espírito, a alma. A consciência, a inconsciência e o instinto. No fundo disso, a criança, no mais intimo da lembrança; E tudo isso no mesmo plano.
Por mais fraca ou forte que possa ser a pancada, fora nos vemos, o que é externo, o que é pouco interno. Cuidamos, cicatriza e “cura”, até pode deixar marca. Para algo interno, tão lá no fundo onde fica a criança, sempre fica o “trauma” da pancada, e apenas isso, o trauma.


Alexandre Vieira.

Um comentário:

Ale disse...

Ah,os pequeno como birram, como sabem como sentem... como são verdadeiros!
Ótimo texto e veo como uma simples coincidência coisa que eu não acredito! rss

Falando da libertação...

É bom saber que algumas coisas mudaram e de alguma forma você conseguiu transfomar, decodificar um código que abriu outras portas em você... isso é bom!

Abraço e ansioso por mais conversas, rs!