sexta-feira, 4 de maio de 2012

Presente - Capítulo 1

"Faziam cerca de três meses que eu completara 80 anos... Em uma dessas reuniões em família, fui surpreendido! Pelos semblantes dos meus três filhos, pude sentir que não seria um assunto fácil.
Fiquei aguardando e Marcelo, o caçula, que sempre foi o mais emotivo de todos, veio até mim com os olhos já um pouco diferentes do normal. Enquanto ele ensaiava um discurso, eu tentava me antecipar ao que viria: "Qual missão teriam incumbido, a ele?" - pensei.
Logo, ele desvendou o assunto... queriam me internar em um asilo!
Talvez, um dia eu já tivesse pensado nessa possibilidade, mas nunca pensei que o fariam.
Diante de mim, estava a "proposta". Poderia mesmo optar? Como não reconhecer que eu estava dando trabalho por de mais a quem me deu tanto trabalho um dia.? Confesso... que me senti um fardo e isso já não era novidade.
A diferença, talvez é que eu achava-me um fardo leve, por usufruir de uma boa aposentadoria e bens que custeavam todas minhas despesas médicas, inclusive enfermeiras e tratamentos.
Já não consigo me lembrar quantos remédios tomo diariamente. Faço hidroginástica, ioga, exercícios regularmente... Tudo para continuar vivo ou ter uma boa qualidade de vida. Mas não é nada fácil, os movimentos já não são os mesmos, a memória insiste em me pregar peças... E tem a pressão, a catarata, a falta de ar... é o processo da natureza.
Após ouvir minha "sentença", o que fiz foi engolir um choro de tristeza e disfarçar com um: "Tudo bem... é até melhor assim." Vi no rosto da minha filha mais velha a sensação de alívio se materializar, em um meio sorriso. Nos abraçamos e eu me fiz  interessado e otimista em relação ao meu novo lar.
Eles falavam, falavam, falavam e eu mau conseguia ouvi-los... minha dor só aumentava!
Quando tudo terminou, disse que iria me deitar para tirar um cochilo. Assim que fechei a porta do quarto, nem consegui chegar à cama... desabei a chorar, me ajoelhei no chão e ali permaneci, até adormecer.
Durante o sono, tive um sonho com minha falecida esposa, Sofia... Ela estava linda e vestia um vestido amarelo-claro. Me estendia os braços e um sorriso acolhedor e eu, me entregava à aquele momento, lamentando, comunicando-a que os nossos filhos, queriam agora me abandonar. Dizia a ela, que seria melhor estar morto, junto dela. Calmamente, ela pedia  para que eu tivesse paciência, tudo iria se resolver e que eu não me aborrecesse ou ficasse triste.
Despertei pela manhã, com o bater na porta... era Neiva, a enfermeira que vinha me lembrar de um dos meus remédios.



CONTINUA...

2 comentários:

lógos Alethéia disse...

Ai Alê, pára com isso... Oh curiosidade agora... kkk

Abraço

Alef disse...

Pois é... faz parte do meu show! Mas tá desenrolando, rs... Abraço.