domingo, 2 de outubro de 2011
O Aniversário de Bárbara
"Hoje quando acordei, o relógio mostrava 15:15. Tarde, mas cedo para alguém que chegou em casa por volta das 6 da manhã. Cansaço. Dores. Ligo o celular e muitas chamadas perdidas, além de mensagens. Desliguei de propósito.
Oh, meu Deus! Estou completando 26 anos! Mas pareço uma mulher de trinta... Talvez seja o cigarro, as bebidas ou a vida mesmo! O toque do celular me livra das lamentações. Do outro lado da linha uma irmã carinhosa, a mais velha. Quer que eu vá à sua casa para comemorar. Tinha insistido em almoço, festa etc. Só que ela ja sabe que não gosto dessas coisas. Já foi o tempo... Convite aceito. Não consigo participar do comercial da 'Família Feliz"' por muito tempo. Planejo não demorar.
As mensagens que vou lendo me deixam animada! É bom ser lembrada... Mais ligações. Mais compromissos? Sim... Um chopinho com as amigas mais tarde, um evento... e no meio das mensagens... uma me desconserta. E continha só três palavras: 'Pensei em você.'
O suficiente para eu respirar fundo, olhar pela janela o horizonte, sentir o vento e fechar os olhos para não deixar escorregar uma lágrima.
Vou tomar banho. Faço todo o ritual dos cremes... E por que estou tão pensativa?! Imagina quando estiver com 40!?!? Ligo o rádio e me arrumo. Sinais de Fogo - está tocando... 'Por que você não olha cara a cara? Fica nesse passa ou não passa... O que falta é coragem!' Concordo.
Checando minha bolsa para ver se levo tudo o que preciso, percebo que estou levando uma coisa a mais...
Culpa! E ela se torna imensa quando vou à eventos familiares... Por isso fujo deles. Até porque nossa ligação não é muito boa.
Uma mãe ausente, um padastro que me violentou, uma irmã egocêntrica... só restou minha outra irmã. Ela é tudo para mim. O outros tento lidar, mas não faço muita questão.
Meu maior medo é que descubram como ganho a vida. A dor maior seria ter que encarar minha irmã... Procuro não pensar nisso. Como pode haver tanto preconceito?
Chegando ao churrasco, me sinto uma intrusa! É como se eu não pertencesse aquilo tudo. Me olham como se eu fosse de outro mundo! Me arrependo, por pouco não saio correndo. Uma mão me salva, a da meu cunhado. Estranho, parece que de alguma forma ele e minha irmã me entendem, parece que conseguem decifrar o que se passa. Tem horas que isso é bom. Tem horas que não...
Minha mãe chega, pergunta com estou... 'Bem'. Sempre estou bem. Não tenho iniciativa de retribuir o interesse da consideração. Pelo contrário, fujo e vou ficar com meus sobrinhos.
As "crianças" me confortam, me divertem. Fico vendo como cresceram e nem todos são mais as crianças de antes. E lá vem alguém querendo saber da minha vida. Invento uma história e faço cara de entediada.
Minha outra irmã veio também, parece querer mudar o sentido das coisas. Não sei... Gosto do marido dela, me parece uma pessoa verdadeira e tem um ótimo humor! Não consigo ver o que ele viu nela, mas sei que não é nada santo. Já me lançou vários olhares sonsos. Nunca quis isso... se fosse seria por prazer e não por vingança. Tudo o que eu não preciso é de mais atritos familiares. Olhando assim... nem sei quem são essas pessoas!
Percebo que falta alguém ... Por um instante procuro e acabo desistindo!
Fico conversando com meu cunhado, meio atenta para não despertar ciúmes ou uma motivação nele.
Algumas cervejas, comidinhas... vou dançar com a garotada! Nessa hora faço papel de tia mesmo, gosto dessa parte.
Até que chega o bolo... Não queria! Parabéns em coro! Minha mãe vem me abraçar... pareço uma árvore, tento, mas não convenço.
O primeiro pedaço de bolo é para minha irmã, não há dúvida nem surpresa, creio.
Ele me dá um presente: um colar lindo que tem um solzinho! Choro, é tão delicado e de um ótimo gosto... Ela me conhece mesmo. Os sobrinhos me dão bombons, querem me engordar! Minha outra irmã se deu ao trabalho de me dar um vestido! Gosto de vestidos, mas esse...
Meu tempo acabou. Já me sinto sufocada. Minha mãe me agarra. Tenta se redimir, tenta! Não deixo e saio da armadilha. Ela ainda vive com aquele mostro. Só faltava ele ter vindo!!
Vou para casa. Tomo banho, troco de roupa... vou ver as meninas!
Estão todas lá!! Vamos para um karaokê e eu me sinto especial, elas são minha família agora! E eu sei que esses é um daqueles raros momentos, onde deram um jeitinho em suas agendas para estarem comigo. Ganho vários presentes. Logo, os celulares começam... Os compromissos de sempre! No fim estou só eu e a Cíntia. Chorando de rir das histórias que ela conta. Não demora e lá se vai ela também.
Então, aproveito a coragem que o álcool me dá e ligo: 'Cadê meu presente?'
Em menos de 30 minutos esta ali a pessoa que me rouba o ar. Nos conhecemos em um programa, desde então, nos vemos algumas vezes.
Não existe cobrança nenhuma. Mas estou totalmente envolvida e culpada! Um belo rapaz desce da moto com champagne, flores e um presente. Tudo previsivel, exceto por ele ser quem é... Meu sobrinho de 19 anos."
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