terça-feira, 23 de outubro de 2012

Minduim...

Charles foi reprovado em todas as matérias na oitava série.
No segundo grau, foi reprovado em física com a nota mais baixa da história da escola. Também foi reprovado em latim, álgebra e inglês. O desempenho nos esportes foi insuficiente. Parecia que ninguém se importava com ele. Surpreendia-se quando alguém passava e dizia olá. Ele, os professores e os colegas sabiam que era um fracassado, segundo todos os padrões convencionais. Resignou-se ao mais baixo nível de mediocridade, ou pior.
Porém, contrariando todas as expectativas, no fundo ele acreditava possuir uma centelha natural de genialidade ou talento: desenhar. Orgulhava-se de seus esboços, mesmo sabendo que ninguém lhes dava importância. No segundo ano do ensino médio, enviou uma série de histórias em quadrinhos para o livro anual da escola. Foram rejeitados. Após o segundo grau, completou um curso por correspondência em arte - sua única formação na área. Depois enviou uma carta ao Walt Disney Studios, na esperança de trabalhar como cartunista. Solicitaram os desenhos, e ele trabalhou horas antes de enviá-los à empresa. A resposta recebida dos estúdios: uma carta padrão negativa.
Mas Charles sentia que possuía um talento peculiar e valioso, mesmo que só para si. Assim, reagiu à rejeição de Walt Disney, desenhando sua autobiografia em quadrinhos, um fracassado crônico, um garoto cuja pipa nunca subia, mas alguém que o mundo todo viria a conhecer: Charlie Brown. Charles, mais conhecido como Charles Schultz e seus quadrinhos "Peanuts", lançados em 1948, tornaram-se um dos desenhos mais famosos da história, chegando hoje a aparecer em 2.600 jornais, em 21 idiomas.
Ao longo dos anos, Charles ganhou cerca de US$ 55 milhões. Cada um dos personagens dos "Peanuts" transformou-se em nomes familiares para cerca de 350 milhões de leitores distribuídos em 75 países. Um vasto potencial humano é desprezado ou se perde porque não entendemos a verdade que Schultz percebeu: ele tinha um potencial único. Mesmo quando ninguém parecia valorizar ou até mesmo admirar seu talento, Schultz adquiriu coragem para desenvolvê-lo com qualidade marcante. Contra todas as expectativas, defendeu esse ponto forte e, no final, emocionou o mundo.
Pergunto-me: o que você traz em seu íntimo neste exato momento? Você tem idéias e sonhos, todos temos. Escondida em seu coração, presa firme aos primeiros obstáculos, está a classe que você devia liderar ou a pré-escola que anseia iniciar. Trancado lá no íntimo está o livro que hesita em fazer, por temer que ele não seja lido. Essa riqueza guardada em seu íntimo não pode ser herdada pelo cemitério. Você privará esta geração dos sonhos que você tem? Você destituirá esta geração e a próxima levando o tesouro que Deus lhe deu para o cemitério? Morra vazio!
Até morrer, em fevereiro do ano de 2000, Charles Schultz desenhou os mesmos quadrinhos "Peanuts" durante mais de 41 anos. Ele não enriqueceu o cemitério privando as pessoas da alegria e prazer de ler suas tiras. São muitos que morrem ricos, com sonhos agarrados firmemente ao seu coração silenciado. São muitos os que descem à sepultura com seu potencial preso lá no íntimo. Se pudéssemos aproveitar o poder não usado de uma sepultura, poderíamos mudar o mundo! Mas é claro que não podemos, porque aproveitamos somente o potencial dos vivos. Contanto que haja fôlego em nossos pulmões, o potencial não usado continua dentro de nós, esperando para ser liberado.
A razão por que ainda estamos vivos é que trazemos algo dentro de nós de que esta geração precisa. Meu lema é "morrer vazio". Não pretendo dar outra coisa ao cemitério que não seja a carcaça vazia de uma vida bem vivida. Gostaria que meu epitáfio fosse: "Vazio!" Nada restou. Sem graça.
Por:
Daniel C. Luz 

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