segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Aparências

A mulher que acabara de se mudar com a família para aquele quintal cheio de casas começou a ficar intrigada com as crianças que sempre passavam por sua porta e se dirigiam até a última das casas... a casa 79-O.
Uma vez cometou com o marido, o que observara. Este, porém, estava mais preocupado com a novela do que saber o que acontecia na casa de seu vizinhos.
Algumas semanas depois seus dois filhos começaram a se enturmar com as crianças da vizinhança e um determinado dia, ela flagrou os dois descendo as escadas, na companhia de outro garoto.
Imediatamente, questionou de onde estavam vindo... e os meninos se entreolharam. Já tinham ouvido a mãe comentar que não lhe agradava o vai e vem daquelas crianças. Tentaram esconder algo, mas ela os fez abrirem as mãos. Eles tinham doces nas mãos... balas.
O outro garoto, disse: "Era no seu Zé, que a gente tava." - e foi embora rindo.
A mãe muito cautelosa fez um monte de perguntas que só confundiram os filhos. As balas, forma jogadas no lixo e os dois foram proibidos de ir à casa 79-O...
Mais tarde relatou o acontecido ao pai dos meninos, este, esparando um comercial da tv, se pronunciou apenas endossando a proibição, mas sem questionar absolutamente nada...
Alguns meses se passaram e um dia, enquanto ela lavava roupa, viu o tal "seu Zé" passar... um senhor de aparentemente 60 e poucos anos... cabelos brancos, franzino, de pele negra... subia as escadas calmamente, a sua era a útima de todas as casas do quintal.
A dona de casa começou a criar uma história em sua cabeça. Para ela um senhor que morava sozinho e sua casa era frequentada por crianças, não deveria ser boa pessoa.
Passou a ficar inquieta com a situação, mas ficava admirada com a alegria que as crianças voltavam da casa dele. O mais esquisito para ela, é que ninguém se incomodava.
A porta do "seu Zé", permanecia aberta na maioria do tempo. Mesmo quando as crianças estavam lá.
Já sabia que ele dava balas para as crianças, mas não entendia o porque ou o que faziam para merece-las.
Um dia se encheu de coragem e esperou uma garotinha entrar, rapidamente se espreitou em uma parede onde pudesse ver o que acontecia no interior da casa.
A menina estava de joelhos, e tudo que ele falava ela repetia... nesse momento os olhos da mulher se encheram de lágrimas! Um soluço convulsivo, fez com que o seu choro a denunciasse... o senhor e a garotinha foram ver quem chorava do lado de fora.
Entre lágrimas e uma espécie de vermelhidão no rosto a dona de casa gritou: "Me desculpe!! Me perdoem!!"
O senhor fez com que ela sentasse, ofereceu um copo de água e pediu para que ela se acalmasse. Ela ainda enxugando as lágrimas disse: "O senhor me perdoe... todo esse tempo morando aqui, fiz um mal juízo da sua pessoa. Proibi meus filhos de virem à sua casa, sem saber o que acontecia direito. Achava tudo estranho e quis ver com meus próprios olhos... Fiquei muito surpresa ao ver o que o senhor faz... minhas pernas tremeram... achei lindo! E só então, compreendi que elas vem aqui rezar e o senhor as recompensa com balas... mesmo que elas não saibam o senhor ensina, como estava fazendo com essa menina. Que vergonha... me desculpe."
O senhor abriu um largo sorriso e disse: "Não fique assim. Tudo é aprendizado.Talvez essa foi a maneira que Deus encontrou de a senhora vir até aqui para que também pudéssemos rezar. Aceita?"
Rezaram os 3, e no fim a dona de casa também descia aquelas escadas emocionada... e com os doces nas mãos.


(Essa história é baseada em fatos reais. Quando criança, conheci um senhor que agia assim com as crianças e a medida que se "avançava" nas orações ele ia ensinando outras... muito bacana!)

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